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66. confiar plenamente em uma pessoa aleatória

Quero viver num mundo em que é possível confiar nas pessoas.
E gosto de arriscar, acredito que estando vulnerável as surpresas acontecem, e só por serem imprevisíveis já são melhores do que o que se pode esperar regularmente.

 

Contexto: um festival imenso e comunista, no meio da alemanha. 80 mil pessoas. Minha barraca estava do outro lado e eu queria pegar alguns objetos para fazer uma coleta para o banco mundial da genitalia.
Estava anoitecendo e o melhor seria conseguir uma bicicleta, pensei em pegar alguma que estivesse por ali, mas não encontrei nenhuma sem cadeado. Vi uma moça sentada com uma bicicleta na frente e uma atrás:
– Essa bicicleta é tua?
– Não.
– E essa?
– Sim.
– Meu camping fica muito longe, tu me empresta ela para eu ir até lá pegar algumas coisas que eu esqueci?
– Depende. .. quem é você?
– Meu nome é caroline, eu sou brasileira e estou aqui com um coletivo que faz festas, nossa apresentação foi sexta.
– Hum.. você pode deixar alguma garantia?
– Eu não tenho dinheiro aqui, pode ficar com a minha câmera.
– Uau, ganhei uma câmera. Ok, seja gentil com o panda.
– Ta bom, pode tirar algumas fotos se quiser. Espera, como nos encontraremos?
– Nós vamos continuar aqui por um tempo.
– Ok.

 

Realmente os dois únicos objetos que eu levava eram a câmera e uma capa de chuva fechada numa bolsinha. Peguei a bicicleta que era uma daquelas pesadas montainbikes com um urso panda amarrado na frente e fui até o acampamento. Detestei andar naquela bicicleta. Na volta senti bastante ansieade, (sensação muito rara para mim) porque estava demorando muito mais do que o esperado e ficava pensando que a mulher poderia ter sumido.

 

Quando cheguei já era noite, estava frio e ela não estava mais lá, sentei no tronco onde nos encontramos e esperei. Aos poucos eu me dei conta que tinha feito uma troca realmente muito estúpida, que a minha câmera é o objeto material mais valioso que eu tenho, e meu instrumento de trabalho, que vale mais que a bicicleta, e que eu nem gostei daquela bicicleta.
Além disso, eu mal lembrava da cara da mulher, eu não tinha perguntado absolutamente nada pra ela e ela nem tinha sido tão simpática, na verdade tudo levava a crer que ela iria ficar com a minha câmera. Eu fui completamente desatenta na hora da troca e não percebi nada disso.

 

Fiquei muito tempo parada, esperando e me sentindo mal.
também pensei que eu precisava, no mínimo, aprender algo com essa situação, e que provavelmente seria:
* ser mais inteligente – uma tarefa difícil porque exige que se modifique a forma com que o cérebro funciona, mas vou tentar ativamente.
* estar mais atenta

 

Eu estava dormindo sentada quando a mulher reapareceu, eu já não esperava nada disso então foi muito melhor. Levantei e dei um abraço nela, (depois descobri que ela é dinamarquesa e, talvez por isso tenha ficado um pouco dura nesse momento).
Ela me contou que se chama Nikita e esperou muito, mas estava tão chapada e faminta que decidiu voltar para o camping e comer. Eu a acompanhei até sua barraca, fomos conversando e nos perdemos no caminho. De tudo que ela falou o que eu achei mais interessante é que ela iria participar de um festival chamado Freaks of Nature, na próxima semana.

 

Aqui estão as fotos que ela tirou:

 

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3 Comentários

  1. Lucas disse:

    poxa… por um minuto pensei q vc tinha se lascado… mas me senti tão bem qndo li no final que ela tinha voltado… se fosse aqui no Brasil acho q a chance disso ter acontecido seria praticamente nula
    beijos!

  2. Bem legal seu blog! Parabéns! Qdo quiser conhecer o meu, será bem-vinda! Um abraço, Eduardo

    http://www.maneirasimples.wordpress.com

  3. Ana disse:

    Você vive intensamente, o blog passa essa ideia às pessoas, pelo menos é o que eu sinto! Você me lembra minha irmã na espontaneidade.

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